MATÉRIAS

segunda-feira, 27 de junho de 2011

ENQUADRAMENTO: PECADOS IMPERDOÁVEIS

Se na hora de fazer um enquadramento de imagem na cena, você pensa que pode fazer de qualquer maneira pois a onda é "quebrar as regras", saiba que você está pisando em campo minado. Do perfeito ao inadmissível a linha divisória é tênue e pode colocar uma produção - que seria perfeita - numa sequência de cenas amadoras e incomodas. 
Noiva "degolada". Excelente, para filme de terror.
Tudo o que escrevo é baseado em experiências vividas, quer seja trabalhando ou apenas observando. Foi assim que cheguei nesta postagem.
Uma boa composição é o que difere uma boa imagem de uma imagem ruim. É importante saber como enquadrar uma pessoa ou objeto em uma cena. As regras criadas na fotografia são extensivas ao vídeo e esse papo de que devemos quebrá-las só cabe a quem tem bom gosto, conhecimento técnico e sensibilidade a estética. Fora isso, corre-se o risco de fazer enquadramentos sem nexo, tirar a atenção do espectador a outros pontos que não são importantes na cena, além de deixar o trabalho visualmente amador ou completamente sem sentido. “Fotografia é uma arte e é assim que deve ser encarada”

O enquadramento de uma determinada cena em vídeo deve ser avaliada quando estabilizamos a cena ou temos o quadro parado. Durante os movimentos a avaliação é bem subjetiva e será assunto de outra postagem.

Dica do Keko: Ao quebrar alguma regra, verifique se a mesma não quebrou a harmonia da cena, não causou incomodo visual ou desviou o olhar para outro ponto fora do interesse.

Sentido de leitura
Na nossa cultura do ocidente, nosso sentido de leitura é sempre da esquerda para a direita e de cima para baixo. Por isso a Globo usa sua marca d’agua no canto esquerdo inferior da tela. É discreta e não incomoda. Com a fotografia é a mesma coisa, lemos a imagem da mesma forma. Sabendo disso podemos direcionar o olhar do espectador da imagem da esquerda para a direita, provocando seu olhar ao ponto de interesse que queremos que ele observe.
Quando
colocamos um objeto ou pessoa do lado esquerdo da imagem, existem técnicas que  conduzem o olho do espectador diretamente para a cena em destaque. Assim este olhar vai observar primeiramente o que você quer na cena, depois o que aparece ao redor.

Ponto de interesse
É toda finalização de cena que dirige o olhar do espectador ao assunto que você quer mostrar.  O espectador até pode observar outros pontos mas o objetivo é conduzir o primeiro olhar ao foco principal. O que o cinegrafista deve ter em mente, durante todo o processo de gravação, é onde ele quer conduzir o olhar de seu espectador. É algo psicológico e automático. Com a técnica correta, observamos primeiro o que o cinegrafista quer nos mostrar. Se a cena for curta, o espectador não terá tempo de olhar outra coisa. Somente o alvo. 


Na imagem do casal, nosso olhar vai direto para os rostos do casal, depois para as mãos. Este é o ponto de interesse. Perceba que quando esta imagem suge diante de seus olhos, você vai direto para o rosto. Se o take demorar mais, aí nosso olhar começará a explorar mais a cena, observando a natureza de background.  
Durante a produção de um clipe de noiva e making of, o senso de enquadramento do cinegrafista deve estar mais apurado, senão corre o risco de mostrar tudo no ambiente, menos o foco principal, os noivos.

Dica do Keko: Transforme o ato de filmar em algo consciente, e verá que o resultado final será bem melhor do que ficar filmando a esmo, sem compreender o evento como um todo.

Regra dos terços
Essa é a mais famosa regra de enquadramento. Dizem que quem a criou foi Leonardo da Vinci. Por isso ela começou a ser usada em pinturas, depois foi para a fotografia e logo em seguida para o vídeo. Com ela em mente evitamos cenas extremamente centralizadas e permite distribuir melhor as pessoas ou objetos dentro do frame. Mas entenda que a regra é entender a regra e saber como e quando quebrá-la. Por isso o bom senso e experiência devem estar sempre startados. E também que não é proibido centralizar, mas cenas descentralizadas tendem a criar uma visão mais ampla do que queremos mostrar.
Esta regra consiste em dividir a cena em duas linhas horizontais e verticais. Na filmadora você pode ativá-la na opção “grid”.  Na junção destas linhas é que faremos a composição da nossa cena. Assim poderemos distribuir e enquadrar nosso alvo de forma agradável.


Distribuindo os objetos através dos terços, criamos imagens mais dinâmicas e agradáveis de se ver, deixando a cena bem mais harmoniosa. Tanto vale para natureza como para pessoas. Posicione a pessoa ou objeto sempre mais ao lado das linhas e não no centro da cena. As linhas ainda lhe ajudarão a manter a linha do horizonte na posição correta. Claro que você poderá fazer imagens viradas, fora da linha do horizonte, mas elas ficarão claras da sua intenção e o espectador entenderá que não foi barbeiragem.

Ponto de Ouro
No encontro das linhas dos terços encontramos os pontos de ouro. Nestes encontros localizamos pontos de grande interesse dos olhos humanos. Na foto abaixo é onde marquei com os pontos vermelhos. Objetos, detalhes e cenas que estiverem neste ponto, chamarão a atenção do seu espectador.


Repare nesta cena. O ponto de ouro está exatamente no rosto da noiva e no buquê. É onde primeiramente nossos olhos irão decupar a cena. Se o take for mais longo, logo em seguida iremos explorar visualmente outros pontos da cena.
Se fizermos uma cena de close de rosto, colocamos ali os olhos da pessoa. Se for uma cena de meio corpo, posicionamos no ponto de ouro o centro do rosto, se for de corpo inteiro a cabeça.
Se sua cena for com objetos, como um buquê, as alianças, o sapato da noiva, o ideal é  que eles estejam posicionados em um dos 4 pontos de ouro. Tudo o que você quiser dar um destaque maior, coloque ali naqueles pontos, lembrando sempre da leitura de nossos olhos, que começam sempre pelo canto superior esquerdo.

Safe Area ou Limite de imagem
A safe area é uma linha limítrofe entre o que vai ser enquadrado e o que vai aparecer efetivamente na TV da casa do cliente. Foi criado no início das transmissões televisivas para que o operador de câmera soubesse que 5% das imagens laterais não iriam aparecer na casa dos telespectadores. Com o advento da tela de LCD quase tudo o que filmamos aparece na transmissão (há ainda uma perda de 1%). Mesmo assim devemos respeitar este limite pois cenas muito encostadas na borda da tela dão um incomodo visual a quem assiste.

Planos e enquadramentos
Quando afastamos a câmera em relação ao nosso alvo, levando-se em conta todas as regras citadas acima, devemos lembrar que nossa cena um possui uma narrativa, um conteúdo dramático próprio. E é aí que muita gente, incluindo muito “Ás” da fotografia e filmagem, acabam querendo fugir das regras e transformam suas cenas em enquadramentos incômodos e agressivos. Fugindo da unidade de linguagem.
Para os planos de enquadramento, definimos como gerais,  médios e primeiros planos.
Enquadrar o nosso centro de interesse focalizando objetos em “Primeiro Plano”, nos dá sensação de profundidade.  Falamos também de “Segundo Plano” quando enquadramos assuntos, pessoas ou objetos, que aparecem por trás da cena principal.

Cena de um plano geral onde o ambiente de fundo faz a composição da cena
Grande Plano Geral (GPG) – O ambiente é o foco principal. Se seu assunto fizer parte da cena, deixe claro que ele está dominado por este ambiente.  Mas não o subestime, valorize seu assunto neste vasto ambiente. Muito usado para externas e making of com o casal.

Plano Geral (PG) – Aqui, o ambiente divide a cena com o assunto. Há um equilíbrio entre ambos. Mostra tanto o cenário em que ocorre a cena quanto seu assunto principal, mostrando uma interação entre ambos.

Plano Médio (PM) – É o enquadramento em que o seu assunto principal preenche toda a cena. Pode ser inteiro, dos pés na parte inferior do enquadramento até a cabeça no alto do enquadramento. Ou mesmo da cintura para cima.

Primeiro Plano (PP) – Enquadra o assunto dando destaque as expressões, gestos, emoções. Neste tipo de enquadramento você quer mostrar apenas seu assunto e seu comportamento. Nada mais.

Plano de Detalhe (PD) – Você dá destaque a parte do corpo. Olhos, boca, mãos, pés. Dentro desde enquadramento deve-se respeitar a harmonia da cena e sempre ter em mente a regra dos terços e o ponto de ouro.

Enquadramentos – Este é o nosso foco central nesta postagem.Então citarei o que não se deve fazer jamais, mesmo que você ache que a moda é quebrar as regras. Lembre-se: Para se quebrar regras tem que ter atitude, bom gosto e conhecimento total delas. Senão você será mais um amador tentando dar uma de profissional.

Jamais corte ou finalize suas cenas nos membros, como mãos (no meio do punho) ou dedos, cabeça (deixando apenas o pescoço), a boca na horizontal, olhos na horizontal, corte no meio das coxas, corte das panturrilhas e canelas. Mesmo se o vídeo for para demonstrar ou apresentar algum produto, como vestido ou bijuteria, valha do bom senso.
É melhor mostrar um colar enquadrando a partir dos seios até entre os lábios e o nariz do que simplesmente “degolando” a modelo, se preocupando apenas com o pescoço.

A regra é clara
Se a cena causar algum desconforto durante a observação ou se o olhar não focar no assunto proposto, mude o enquadramento. Busque a melhor estética. Seja ovacionado pela criatividade do enquadramento e não pela mediocridade da falta de conhecimento.

Ângulos e novos ângulos
A filmadora tanto pode estar posicionada na mesma altura do seu assunto quanto abaixo ou acima dele. Ao registrarmos a cena de cima para baixo ou de baixo para cima, temos que conhecer qual a impresão que queremos passar com o enquadramento. Há uma linguagem muito subjetiva por trás desdes ângulos, o que pode fazer diminuir a pessoa que está em cena (que pode causar idéias negativas como fraqueza e desprezo) ou até o inverso (de domínio e arrogancia). Sempre estude em que contexto você vai captar estas imagens.  E sempre procure novos ângulos e posicionamentos que não firam as regras de bom senso e gosto. São de pequenos detalhes que são construidas as grandes imagens.

Um belo enquadramento com harmonia entre ambiente e assunto
Conclusão
Assim finalizo esta matéria, mostrando que você pode ser inovador respeitando as regras e as quebrando de vez em quando. Sabendo que para quebrá-las você tem que ter o conhecimento pleno da função de cada uma.  Até para se quebrar há regras!
Em sua proxima gravação, pense em cada enquadramento que irá fazer e tente analisar de forma crítica cada cena gravada. Tenha certeza de uma coisa. Quanto mais você tiver conhecimento e preocupação com os mínimos detalhes, mais sua obra aparecerá e seu trabalho se valorizará.
Não pare de estudar nunca. Os que pensam que acham que sabem alguma coisa, quando criticados, perdem a oportunidade de aprender e ficam justificando seus próprios erros. Saia da roda viva e parta para o topo! 
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